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UNIÃO EUROPÉIA: Preconceito contra ciganos é generalizado na Europa

Preconceito contra ciganos é generalizado na EuropaO presidente francês, Nicolas Sarkozy, vem sendo alvo de duras críticas desde que iniciou uma cruzada contra os ciganos que vivem na França, também conhecidos como "roms" ou "viajantes". Mas o preconceito contra este povo está longe de ser é uma exclusividade do governo francês: a desconfiança e o desprezo marcam a trajetória desta minoria desde o século XV, quando os europeus passaram a rejeitar a presença de comunidades nômades e sem ocupação fixa.

"Mais do que os judeus ou muçulmanos, os ciganos são o povo mais discriminado da Europa. É uma unanimidade", afirma a pesquisadora Nonna Mayer, coautora do Relatório Anual contra o Racismo, Antissemitismo e a Xenofobia da Comissão Nacional Consultativa dos Direitos Humanos da França. "A prova disso é que, junto com os judeus e os homossexuais, os ciganos eram considerados uma raça inferior por Adolf Hitler, que desejava o extermínio completo deste povo.

"Sarkozy também não foi o primeiro francês a se voltar contra os ciganos. No século XVII, o célebre rei Luis XIV a quem, curiosamente, o atual presidente é com frequência comparado por suas decisões arbitrárias ¿ decretou que todos os ciganos homens deveriam ser presos e enclausurados em calabouços, onde permaneceriam pelo resto da vida sem processo ou julgamento. Suas mulheres e filhos eram enviados para hospícios.

Mas o auge da perseguição aconteceu mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, quando 220 mil ciganos foram exterminados pelo regime nazista ao ar livre ou nos campos de concentração. Apesar das lições da guerra e da formação da União Europeia, a impressão sobre os ciganos não parece ter evoluído ao longo das últimas décadas. Até hoje, para muitos eles ainda são associados causadores de medo, insegurança, roubos e trapaças.

"O preconceito contra eles sempre existiu na Europa ocidental, sobretudo porque eles levam um modo de vida diferenciado, não tolerado pelo europeu", explica Jean-Yves Camus, especialista em extrema-direita do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) em Paris. "É uma cultura que o europeu não consegue apreender, porque baseada no oposto do que estamos acostumados, ou seja, em um máximo de estabilidade possível."

A União Europeia não estabeleceu uma política comum face aos ciganos, deixando o caminho livre para os 27 Estados-membros integrá-los ¿ ou não ¿ como melhor lhes convier. A maior parte dos ciganos migra da Romênia e da Bulgária para os países mais desenvolvidos, onde procuram novas chances de emprego.

"Não podemos esquecer que onde eles mais sofrem preconceitos é justamente de onde eles vêm, dos países do Leste. Na sua região de origem, eles são detestados, hostilizados o tempo inteiro e vivem uma vida miserável", lembra Mayer.

Atualmente, quem mais faz companhia a Sarkozy nas medidas contra os ciganos é o governo italiano, depois que a rejeição contra o povo chegou à provocação de um incêndio criminoso de um acampamento de ciganos nas proximidades de Nápoles. O governo passou a registrá-los, recolhendo impressões digitais, e a propor indenizações para a saída voluntária dos ciganos em situação ilegal do país. O "incentivo" compreendia 400 euros e uma passagem de avião para o país de origem.

Agora, estimulado por Sarkozy, o ministro italiano do Interior, Roberto Maroni ¿ membro da Liga do Norte, o principal partido de extrema-direita ¿ quer poder expulsar qualquer cigano que não tenha domicílio fixo e que "seja um fardo para o sistema social" do país onde se encontra.

A Alemanha age em via semelhante, incentivando a partida voluntária e promovendo expulsões regulares de ciganos ilegais. No entanto, os alemães se vêem face a um empecilho cada vez mais comum: de acordo com a Unicef, 38% dos ciganos que vivem na Alemanha são apátridas, logo protegidos de expulsão compulsória por convenções internacionais. A maioria deles é de refugiados do Kosovo.

Outro que não parece estar satisfeito com a presença dos ciganos é o Reino Unido. O tema é recorrente na política britânica. Nas últimas eleições para primeiro-ministro, uma das promessas de campanha do candidato conservador, David Cameron ¿ vencedor do pleito ¿ foi a de reforçar a legislação contra a ocupação ilegal de terrenos vazios, visando, nas entrelinhas, à comunidade cigana. O projeto prevê a criação de um novo delito através do qual os policiais serão autorizados a prender pessoas que se recusam a deixar um terreno ocupado ilegalmente.

Na República Checa, as violências com ciganos fazem parte do cotidiano, inclusive por parte do governo. O problema chegou extremo quando a Côrte Europeia dos Direitos Humanos condenou o Estado checo por ter obrigado crianças ciganas a frequentar centros para doentes mentais.

Já a Espanha, depois de ter colaborado com o regime nazista e desejado a eliminação dos ciganos, hoje age na mão oposta. Abrigo da maior comunidade cigana da Europa ocidental, o país acaba de adotar um plano de ação para promover a integração da população de cerca de 800 mil ciganos. O orçamento do projeto é de 107 milhões de euros e visa a aprimorar a educação, o alojamento e a saúde dos estrangeiros.(Terra)

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