Apesar do calor de agosto, os turistas continuam a visitar o Bel Paese. No ano passado, 50 milhões foram conhecer as obras da antiguidade que se mantiveram íntegras, como o Panteon, construído no segundo século depois de Cristo. A Itália é o quinto país mais visitado do mundo e 12% do seu Produto Interno Bruto (PIB) são gerados pelo turismo.
Olhando para as ruas da capital italiana, não é fácil enxergar a crise. Uma pergunta que os estrangeiros fazem quando chegam ao país: onde está a crise, se os restaurantes estão sempre cheios?
Já virou lugar comum e até o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, na reunião do G-20, no ano passado, usou os mesmos argumentos, surpreendendo a todos. Ele tentou convencer os líderes mundiais, de que a economia italiana não estava decadente, porque os restaurantes estão sempre lotados.
O setor da alimentação é um dos poucos que ainda não estão em queda na Itália. Parte do público que enche os restaurantes hoje é de viajantes dos países emergentes. O turismo que vem de fora caiu só 0,2%. O nível de consumo no país retrocedeu 14 anos e voltou a ser o mesmo de 1998. As últimas liquidações foram um fiasco, com quedas nas vendas de mais de 20%.
Os italianos também desistiram de viajar nas férias de agosto, equivalentes as de janeiro no Hemisfério Sul. Metade da população não saiu para descansar. Dez milhões de reservas de viagens, feitas no primeiro semestre, foram canceladas.
A maior crise quem vive são as grandes empresas. E, claro, os trabalhadores. A taxa de desocupação chegou a 11%. Entre os jovens, o desemprego é de 30%. O analista político Carmelo Lo Papa ajuda a entender.
“Diferentemente da Espanha, aqui não existe uma crise que envolva o setor imobiliário e nem que ameace os bancos porque a Itália economiza muito. A Itália está em crise porque não investiu no crescimento, nas indústrias. A Fiat, por exemplo, vai fechar as suas fábricas no sul do país, perdendo dezenas de milhares de postos de trabalho. Será uma recuperação lenta e são previstos ainda dois anos no vermelho. O que segura a Itália são a pequena e a media empresa, símbolos da força da economia desta nação”, fala o analista político.
O luxo não entrou em crise. As lojas de grife e de carros caros mantêm as vendas. Os ricos continuam consumindo os produtos aos quais poucos têm acesso, mas a classe média já parou de comprar o que é vital.
“Um relato que me impressionou bastante: um médico no hospital me contou que os exames clínicos foram reduzidos pela metade e este é um dado clamoroso. As pessoas estão cortando até os gastos indispensáveis para a saúde”, conta Lo Papa.