Sem apoio político, o prefeito de Roma, Ignazio Marino, deixou oficialmente seu cargo, após dias de impasse sobre sua possível renúncia devido a uma série de escândalos e acusações de corrupção e desvio de verba pública.
Seu afastamento foi automático após 26 conselheiros municipais – um a mais que o quórum de 25 e sendo 18 da sua própria legenda, o Partido Democrático – pedirem demissão e dissolverem a assembleia da capital italiana e a junta parlamentar. Agora, o comissário especial da região de Roma, Franco Gabrielli, deverá coordenar a convocação de novas eleições na cidade. Gabrielli é o responsável pela segurança de Roma, cargo indicado pelo Estado italiano e preenchido sem eleições (na nomenclatura local, é "preffeto", falso cognato).
Membro do governista Partido Democrático (PD), Marino tinha protocolado um pedido de renúncia no início de outubro, mas mudou de ideia em seguida e desistiu de se afastar do cargo. A legislação italiana permitia que ele refletisse sobre sua demissão até dia 1 de novembro. Os 26 conselheiros apresentaram suas renúncias como uma manobra para derrubar o governo de Marino, já que o prefeito desistira de seus próprio afastamento. Marino reagiu à manobra e disse que "se pode matar um time, mas não se pode interromper suas ideias". Ele também criticou a atitude de seus parceiros do PD. "Este partido me desiludiu com o comportamento de seus dirigentes, porque renunciou à democracia que está no seu DNA", disse. Nesta semana, a imprensa italiana publicou que o prefeito estava sendo investigado por peculato e falsificação em documento público. Além disso, ele também estaria envolvido em uma fraude com a "Image Onlus", entidade criada em 2005 para fornecer ajuda médica em Honduras e no Congo.
O prefeito viu sua situação ficar insustentável após a revelação de que gastara 150 mil euros no ano passado com jantares, hospedagens e reuniões oficiais. Em depoimento espontâneo no Ministério Público de Roma, Marino alegou que muitas assinaturas em recibos são falsas e que jamais usou dinheiro público para fins privados. Antes disso, ele chegou a ser criticado devido ao processo judicial que ficou conhecido como "Mafia Capitale" ("Máfia Capital", que desbaratou um grande esquema de associação mafiosa na Prefeitura, derrubando, inclusive, alguns membros de seu gabinete. Apesar de não estar envolvido no caso, Marino foi questionado por ter nomeado assessores mais tarde acusados de corrupção.
Na semana passada, um grupo de eleitores de Roma saiu às ruas para pedir a permanência de Marino, acusando a oposição de querer tirá-lo do poder. "Neste país, quando chega uma pessoa honesta e capaz ao governo, inicia-se um mecanismo para derrubá-la", diziam os manifestantes. O afastamento representou uma reviravolta na conturbada administração de Marino, que comandava Roma desde junho de 2013.