
O ex-primeiro-ministro da Itália Giuseppe Conte e o comediante Beppe Grillo chegaram a um acordo para evitar a implosão do Movimento 5 Estrelas (M5S), dono da maior bancada no Parlamento do país e primeiro partido antissistema a chegar ao poder na Europa.
Após semanas de embates sobre o papel de cada um no M5S, Conte e Grillo concordaram em dividir a liderança: enquanto o primeiro será presidente do movimento e responsável por sua linha política, o segundo continuará no papel de “garantidor e protetor dos princípios” da sigla.
Derrubado por uma crise política em janeiro, Conte é hoje a figura mais popular do M5S, porém havia pedido carta branca para renovar um partido que enfrenta uma perene crise de identidade desde que chegou ao poder, em 2018.
O ex-premiê, no entanto, encontrava resistência em Grillo, fundador da sigla e que chegou a acusá-lo de não ter “visão política nem capacidade de gestão” para refundar o movimento. Com o partido em queda nas pesquisas, os dois resolveram esfriar a disputa.
“Uma liderança clara e legitimada no Movimento 5 Estrelas constitui um elemento essencial de estabilidade no país. Grillo e Conte conversarão nos próximos dias para definir os últimos detalhes”, diz uma mensagem do ex premiê e do humorista lida pelo líder interino do partido, Vito Crimi.
Do auge à queda
Em 3 de março de 2018, com menos de 10 anos de existência, o M5S havia furado a polarização esquerda direita na Itália e alcançado 32% dos votos, tornando-se o primeiro partido antissistema a vencer eleições nacionais em uma das grandes democracias do Ocidente.
Três meses depois, o movimento chegou ao governo em uma coalizão com a Liga, prometendo uma “nova era”, mas a supremacia do então ministro do Interior, Matteo Salvini, e a aliança com a ultradireita afastaram aqueles eleitores progressistas que viam no M5S o surgimento de uma nova esquerda.
Em agosto de 2019, a Liga rompeu a coalizão para tentar forçar a convocação de eleições antecipadas, mas o M5S deu uma guinada inesperada e se aliou a seu maior inimigo até então, o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.
A nova coligação afastou parte daqueles eleitores que haviam se aproximado do movimento por causa de seu discurso antissistema e eurocético e que preferiam a parceria com Salvini. Além disso, com a queda de Conte, o M5S aceitou apoiar o governo de união nacional encabeçado por Mario Draghi, um símbolo do establishment europeu que o movimento sempre criticou.
O partido ainda tem a maior bancada no Parlamento, mas hoje aparece apenas em quarto lugar nas pesquisas, atrás da Liga, do PD e da legenda de extrema direita Irmãos da Itália (FdI).