Em uma entrevista coletiva no avião que o levou de volta do México para o Vaticano, o papa Francisco defendeu métodos contraceptivos como um "mal menor" para combater a disseminação do vírus zika, mas criticou o uso do aborto para evitar o nascimento de crianças com microcefalia.
"O aborto não é um problema ideológico, é um problema humano, um problema médico, é matar uma pessoa para salvar outra, no melhor dos casos, ou para deixá-la bem. É um mal em si mesmo", declarou o Pontífice.
Contudo, segundo Jorge Bergoglio, não se deve confundir o "mal para evitar a gravidez" com a própria interrupção da gestação. "Sobre o mal menor, evitar a gravidez, falemos em termos de conflito entre o quinto e o sexto mandamentos ['não matar' e 'não pecar contra a castidade']. Paulo VI, o grande, em uma situação difícil na África, permitiu às freiras o uso de anticoncepcionais em casos de violência", declarou Francisco aos jornalistas presentes em seu avião.
No início de fevereiro, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Zeid Al Hussein, havia pedido a revogação de leis que limitassem o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva, inclusive o aborto e a contracepção de emergência, para fazer frente à disseminação do zika, que pode causar microcefalia em fetos.
Além disso, no Brasil, algumas personalidades, como o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão (PSB-RJ), defendem que as mulheres tenham direito de interromper a gestação de fetos com má formação cerebral. "Evitar a gravidez não é um mal absoluto. Em certos casos, como esse do vírus zika ou aquele que mencionei, do beato Paulo VI, isso fica claro", ressaltou o Papa.
No entanto, o Pontífice exortou os médicos a "fazerem tudo o que for possível" para desenvolver vacinas contra a doença.