O papa Francisco se recusou a dar sua opinião sobre o projeto em tramitação no Senado da Itália que autoriza a união civil entre pessoas do mesmo sexo, dizendo que um Pontífice "não se intromete" na política do país europeu.
"Na primeira reunião que eu tive com os bispos, em maio de 2013, uma das coisas que eu lhes disse foi: com o governo, se arranjem vocês", contou Jorge Bergoglio, durante entrevista coletiva no voo que o levou de volta a Roma, após cinco dias de visita ao México.
Segundo Francisco, um Papa não pode se meter na política interna de um país. "Esse não é o papel do Pontífice. E aquilo que eu penso é aquilo que pensa a Igreja e muitos já disseram, porque este [a Itália] não é o primeiro país que faz essa experiência", acrescentou.
Em 2010, quando a Argentina debatia a aprovação do casamento gay, Jorge Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, se posicionara contra o projeto, dizendo que ele era uma "pretensão destrutiva contra o plano de Deus". "Sobre as pessoas do mesmo sexo, repito aquilo que é o catecismo da Igreja Católica", acrescentou Francisco no avião papal.
A controvérsia
O projeto que autoriza a união civil entre homossexuais na Itália está em discussão no Senado e prevê o aumento dos direitos desses casais, equiparando-os aos do casamento, embora este continue reservado a pares formados por um homem e uma mulher.
No entanto, o ponto mais discutido da chamada "Lei Cirinnà" – em referência à sua autora, a senadora Monica Cirinnà – estende a "adoção de enteados" para os gays. Com isso, homossexuais poderão registrar os filhos de seus parceiros, mas apenas na ausência do outro pai biológico – a adoção por casais de pessoas do mesmo sexo continuaria proibida.
Esse item enfrenta forte resistência no Parlamento, até mesmo dentro da própria coalizão de Matteo Renzi, um primeiro-ministro de centro-esquerda apoiado por algumas pequenas legendas de direita. Além disso, a ala católica de sua sigla, o Partido Democrático (PD), é contra a "adoção de enteados".
Como a maioria da base aliada no Senado é muito estreita, o governo vem encontrando dificuldades para garantir os votos necessários para que o projeto seja aprovado sem alterações.