O economista Mario Monti, que foi oficialmente nomeado o novo primeiro-ministro da Itália, tem a vantagem de ser um tecnocrata, respeitado, ter muita conexão na Europa, por ser ex-comissário europeu. Mas também tem a desvantagem de não ser um político num governo parlamentar que terá de ser montado com forças políticas. Não tem jeito, terá de dar espaço aos partidos. O da Liga do Norte já disse que não apoiará, o de Berlusconi afirmou que dará apoio crítico.
Ele entrou para o parlamento pela janela, escolhido senador biônico pelo presidente da Itália, Giorgio Napolitano, o que, por aqui, lembra a ditadura. Não tem nenhum traquejo político, mas terá de ter.
Os problemas econômicos do país são muito graves, se sobrepõem até aos problemas políticos.
Foi divulgado pela Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia, que a produção industrial da zona do euro caiu 2% em setembro em relação a agosto, o pior resultado desde fevereiro de 2009. Na Alemanha, recuou 2,9%; na França, 1,9%; e na Itália, 4,8%.
O que mais ameaça a Itália é a recessão, porque fará com que a dívida/PIB cresça muito mais. Se o país continuar crescendo pouco, perto de zero, a dívida, que hoje está em 120% do PIB, vai para 140% até 2016, segundo projeção do mercado.
O problema de Mario Monti é que está assumindo num momento muito dramático, terá de discutir com a Europa o que fazer. O Banco Central alemão fez um alerta no fim de semana ao dizer que o BCE não é o emprestador de última instância, pode comprar alguns bônus da Itália, mas não socorrê-la.
Há muitos problemas para serem enfrentados por Mario Monti. O primeiro deles será como misturar quadros técnicos, que deem confiança aos emprestadores da Itália, e políticos, que mantenham uma aliança que dê sustentação ao governo. Vamos ver se terá sucesso nessa empreitada, que é muito difícil. (Miriam Leitão)