O presidente da Itália, Sergio Mattarella, exaltou em discurso no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro, os “laços profundos” e a “afinidade” que unem os dois países.
“Após 24 anos da visita do presidente [Carlo Azeglio] Ciampi, quis fazer uma viagem que permitisse uma experiência em diversos aspectos da realidade do país. Ir a Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Porto Alegre – esta última dramaticamente atingida pelas inundações – é um privilégio que permite apreciar a variedade multiforme e rica do Brasil”, declarou Mattarella.
“A amizade e a cordialidade reservadas a mim, à minha filha [Laura] e à delegação que me acompanha confirmam os profundos laços e a afinidade que unem Itália e Brasil”, acrescentou o presidente, que fez um discurso com o título “Um diálogo inclusivo para um cenário internacional em evolução: Parcerias e perspectivas em nível bilateral, regional e global”.
“Cada etapa [da viagem] expressa um perfil diferente da profunda identidade deste país de dimensões continentais, ‘gigante por sua própria natureza’, como diz seu hino nacional. As relações de amizade que mantemos com o Brasil representam um patrimônio comum, alimentado pela contribuição dos mais de 800 mil italianos aqui residentes e pela maior comunidade de ítalo-descendentes no mundo, que desempenharam um papel na construção do Brasil de hoje, seu desenvolvimento e sua prosperidade”, destacou.
Presidente elogia Brasil por acolher imigrantes
O presidente da Itália, Sergio Mattarella, afirmou que o Brasil dá “lições de civilidade não apenas com o acolhimento e o crescimento social dos imigrantes, mas também com a capacidade de tornar cidadãs as pessoas que chegam de muitas partes do mundo”.
“São todos brasileiros, autenticamente e orgulhosamente brasileiros, ainda que de origens e antepassados de outros países”, declarou o chefe de Estado no Cebri.
Mattarella lembrou da ocasião em que um presidente europeu disse a ele que defendia a “genuína e autêntica identidade” dos povos do continente. “Eu respondi: ‘Nós temos migrações e invasões desde a época do Império Romano, que era fruto da convivência entre etnias e populações de realidades diferentes. Isso ocorreu ao longo dos séculos, e o resultado final não nos desagrada nem um pouco”, garantiu.
O presidente também alertou que a Europa precisa de “novos protagonistas da vida internacional” para evitar o “retorno de concepções dos séculos 18 e 19”.
“O mundo necessita de energias novas. Os velhos protagonistas não devem ser deixados de lado, mas são insuficientes e inadequados para os problemas globais que o mundo apresenta. Esse é um discurso conjunto que Brasil e Itália pretendem fazer para manter perspectivas de paz”, ressaltou.
Mattarella ainda disse que o aniversário de 150 anos da imigração italiana no Brasil é um “momento significativo” nas relações bilaterais e que “convida a refletir sobre a indivisibilidade dos destinos humanos, lembrando esta página que marcou nossa identidade e história recente”.
“Agradecemos ao Parlamento brasileiro por ter instituído a data de 21 de fevereiro como Dia do Imigrante Italiano, em memória do desembarque em Vitória, em 1874, de uma centena de italianos que partiram de Gênova a bordo do vapor La Sofia. Eles trouxeram consigo poucos bens, mas foram movidos pela aspiração de querer participar da formação de um país, dispostos a integrar-se e com a determinação de conseguir, com o seu trabalho, uma vida melhor”, acrescentou o chefe de Estado.
“Esta terra generosa ofereceu-lhes hospitalidade e oportunidades, e isto alimenta a gratidão da Itália. É uma experiência que somos chamados a valorizar – juntamente a nossos parceiros europeus – para enfrentar o desafio do acolhimento que o atual fenômeno migratório coloca às nossas sociedades”, afirmou.
Mattarella elogia política externa brasileira
Sergio Mattarella elogiou seu homólogo Luiz Inácio Lula da Silva por chamar atenção para temas como a “inclusão social, a luta contra a pobreza e a fome, o desenvolvimento sustentável e a transição energética”.
“Na extensa conversa que tive em Brasília com o presidente Lula, pude apreciar os alinhamentos e prioridades que o Brasil colocou na presidência do G20”, disse o chefe de Estado em discurso no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro.
“Colocar ênfase na inclusão social, na luta contra a pobreza e a fome, no desenvolvimento sustentável, na transição energética, na necessidade de uma tributação justa das atividades econômicas que geram lucros imensos, na reforma da governança global, é uma prova tangível do alcance global da política externa brasileira”, acrescentou.
Segundo Mattarella, esses desafios “dizem respeito a todos” e envolvem os conceitos de “Ocidente” e “Sul Global”, que “às vezes são usados de modo vago e instrumental”.