
O governo italiano revelou o temor de que a queda do ditador líbio Muammar Gaddafi possa estimular a partida de milhares de imigrantes ilegais rumo à Itália e outros países europeus como a Grécia. Já a Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas (Frontex) estima que entre 500 mil e 1,5 milhão de líbios possam pedir refúgio do outro lado do Mediterrâneo.
O chanceler da Itália Franco Frattini alertou em entrevista ao jornal "Corriere della Sera" que a fuga de líbios pode se converter num "êxodo bíblico", sendo uma onda até dez vezes maior do que a crise registrada em 1997 quando refugiados da Albânia migraram rumo ao país.
"Na Líbia, um terço da população não é originária do país, mas subsaariana. Estamos falando de 2,5 milhões de pessoas que, no caso da queda do sistema do país, escaparão porque ficarão sem trabalho. Nem todos [virão] à Itália. Grécia está muito mais perto de Cirenaica e Benghazi", avaliou o chanceler, acrescentando que a parte leste do país é "terra de ninguém".
"Na Cirenaica, como se sabe, existem tribos e nós não temos ideia de quem são", revelou, destacando que o que se sabe deles é que são perigosos e contam com integrantes da rede terrorista Al Qaeda, e que por isso no fim de 2006 a Itália decidiu fechar seu consulado na região.
EUROPA EM ALERTA
A agência da União Europeia (UE) encarregada de guardar as fronteiras do bloco manifestou preocupação com o êxodo de imigrantes ilegais que pode ser ocasionado em meio à crise no norte da África.
"Trata-se de pessoas de origem subsaariana que trabalham na Líbia e o norte da África" e que "se dirigiriam principalmente à Itália, Malta e Grécia", alertou a Frontex em comunicado.
Além disso, a Comissão Europeia, Frontex e o governo italiano informarão ao resto dos estados-membros sobre a operação Hermes em Lampedusa.
A agência dedica atualmente a maior parte de sua capacidade nessa operação após as revoltas na Tunísia chegaram ao redor de 5,5 mil imigrantes.
"Será a primeira oportunidade que terão os 27 [países integrantes da UE] de discutir em conselho a crise da imigração e avaliar os seguintes passos a serem dados", informou um porta-voz da Presidência húngara que atualmente comanda o bloco.
LAMPEDUSA
Após a queda do ditador da Tunísia Zine el Abidine Ben Ali, na metade de janeiro, mais de 5.000 imigrantes já tentaram entrar na ilha de Lampedusa, na Itália, e barcos com egípcios também já foram apreendidos.
A Itália, porta de entrada por questão geográfica, quer dividir a responsabilidade com o resto da Europa e já pediu a criação de fundo de 100 milhões de euros para cuidar do problema.
O país alega que esses imigrantes não desejam ficar na Itália, mas ir para a França, onde têm família. Há também a facilidade da língua: o país foi colônia francesa, e a maioria dos tunisianos fala o idioma.
Acordo entre os países da União Europeia determina que imigrantes em busca de asilo devem ficar no país a que chegaram até a solução de seu caso. (Folha de S.Paulo)