
Partidos do campo conservador na Itália já se movimentam para esvaziar duas moções parlamentares que pedem a dissolução do movimento neofascista Força Nova (FN), que invadiu a sede do principal sindicato do país durante um protesto contra um certificado sanitário anti-Covid.
As legendas de centro e esquerda Partido Democrático (PD), Itália Viva (IV) e Partido Socialista Italiano (PSI) protocolaram no Senado duas resoluções que obrigam o governo a extinguir o FN, mas a direita quer que os textos sejam alterados para incluir apenas uma genérica condenação de “todas as formas de violência”.
“Queremos fazer uma coisa séria? Todo o Parlamento se junte para aprovar um documento contra qualquer forma de violência e para dissolver todas as organizações que levem adiante a violência. A violência dos centros sociais [como são chamadas pequenas organizações de esquerda radical no país] não é menos importante”, disse o senador de ultradireita Matteo Salvini.
Já o partido conservador Força Itália (FI), do ex-premiê Silvio Berlusconi, afirmou que não vai apoiar as moções da centro-esquerda porque “não existem totalitarismos ruins e totalitarismos bons”. “Propomos trabalhar em uma moção unitária contra todos os totalitarismos”, acrescentou a sigla.
As resoluções contra o Força Nova, no entanto, não fazem menção a “totalitarismos”, mas sim remetem a um artigo específico da Constituição Italiana que “proíbe, sob qualquer forma, a reorganização do partido fascista”.
“Nossa moção pede que o governo, através de instrumentos previstos pelas leis vigentes, dissolva a organização neofascista Força Nova e todos os outros grupos que remetem ao fascismo. Esperamos que todas as forças políticas autenticamente democráticas a apoiem”, disseram as líderes do PD no Senado, Simona Malpezzi, e na Câmara, Debora Serracchiani.
Fundado em 1997, o FN recusa o rótulo de “neofascista”, mas suas manifestações são sempre repletas de referências nostálgicas ao ditador Benito Mussolini e a símbolos do fascismo, como a saudação romana.
O grupo participou de um protesto em Roma contra a exigência de certificado sanitário anti-Covid em todos os locais de trabalho na Itália, regra que entra em vigor em 15 de outubro.
Durante o ato, militantes do Força Nova instaram a multidão a atacar sedes das instituições, como o Palácio Chigi, que abriga o gabinete do premiê Mario Draghi, e lideraram uma invasão à Confederação Geral Italiana do Trabalho (Cgil), principal sindicato do país.
A ação fez renascer o fantasma do “squadrismo”, tática paramilitar de intimidação contra oponentes incorporada pelo fascismo logo em seus primórdios. “O episódio, sem sombra de dúvidas, entra no cânone do squadrismo armado do qual o fascismo se valeu entre 1920 e os anos sucessivos para a eliminação de adversários políticos”, diz a moção do PSI e do IV.
O FN é historicamente próximo do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que hoje lidera praticamente todas as pesquisas de intenção de voto em âmbito nacional. A própria líder do FdI, a popular deputada Giorgia Meloni, admitiu que a ação do Força Nova foi “squadrista”, mas não quis defini-la como “fascista”.
“Com certeza é violência e squadrismo, porém não conheço a origem. Se é fascista ou não é fascista, não é esse o ponto. O ponto é que é violência, é squadrismo, e essa coisa deve sempre ser combatida”, declarou Meloni.
Seis pessoas foram presas após a invasão da Cgil, incluindo Roberto Fiore, fundador e líder do Força Nova.