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Com projetos grandiosos, Expo Milão 2015 é vitrine para a arquitetura

Símbolo de Paris e da França, a Torre Eiffel é um dos projetos arquitetônicos mais célebres do planeta. Com seus 324 metros de altura e mais de 10 mil toneladas, a construção projetada por Gustave Eiffel está no imaginário de todos aqueles que sonham em um dia conhecer a cidade luz. Mas além de uma atração turística concorrida, o monumento é símbolo da importância que as Exposições Universais – evento que em 2015 acontece em Milão – têm para a arquitetura.

 

A Torre Eiffel foi construída em 1889 para ser o arco de entrada da edição daquele ano da feira, realizada em Paris. Na época, ela era a estrutura mais alta do mundo e deveria ser temporária, porém acabou se perpetuando no tempo e logo se tornou um ícone do país.

 

Mas a obra de Gustave Eiffel não é o único patrimônio arquitetônico deixado por uma Expo. O evento também já proporcionou como legado a construção do Arco do Triunfo de Barcelona (1888) e da Space Needle, em Seattle (1962), além de ter promovido revoluções urbanísticas em cidades como Lisboa (1998).

 

"É um evento muito importante, um lugar onde a excelência do mundo se reúne para mostrar o que a tecnologia de um país pode fazer. É uma vitrine internacional, onde o melhor da criatividade e da experimentação e os melhores arquitetos do mundo se apresentam", diz Michele Molè, do Studio Nemesi, projetista do pavilhão da Itália para a Expo Milão.

 

Entre os nomes que participam da feira deste ano estão também o norte-americano Daniel Libeskind e o britânico Norman Foster, este último vencedor do Pritzker, o Oscar da arquitetura, em 1999.

 

Em suas primeiras edições, a Exposição Universal era espalhada pelo tecido urbano da cidade que a recebia. No entanto, essa característica começou a mudar em meados do século 20, quando as feiras passaram a ser feitas em áreas dedicadas especialmente a elas, como é o caso da de 2015, sediada em uma zona industrial na região noroeste de Milão.

 

Uma das primeiras exposições neste modelo foi a de 1939, em Nova York, quando o pavilhão brasileiro foi assinado por ninguém menos que a dupla Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, responsáveis pela criação de Brasília. O concurso para escolher o projetista da obra havia sido vencido pelo primeiro, que decidiu convidar o amigo para ajudá-lo.

 

"Foi um pavilhão super importante. Essas obras representam a imagem que o país quer passar ao exterior e, naquele momento, a arquitetura moderna carioca ainda não era hegemônica no Brasil. O fato do Lúcio ter vencido aquele concurso começa, de certa forma, a construir essa imagem do Brasil como um país moderno", conta Pedro da Luz Moreira, presidente do departamento fluminense do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ).

 

Como passou a ser praxe nas obras da Expo, o pavilhão brasileiro em Nova York foi desmontado após o fim do evento, mas virou um ícone da arquitetura modernista nacional e apresentou o trabalho de Niemeyer ao mundo. Em 2015, o prédio que representará o país é assinado por Arthur Casas, para quem a importância desse tipo de evento para a arquitetura já foi maior na passado, quando os países o usavam para exaltar suas tecnologias.

 

"Nos últimos tempos, é mais a experiência, tratar de temas abrangentes, como alimentação, do que cada país usar a Expo para mostrar sua superioridade tecnológica. Não é mais expor uma tendência arquitetônica ao mundo, é mais o lado do simbolismo", diz o arquiteto.

 

Criatividade

 

Autor de um dos projetos mais suntuosos da Exposição Universal de 2015, o escritório Foster and Partners, do britânico Norman Foster, trabalha com a ideia de que um projeto para a feira deve primeiramente refletir a nação que ele representa. No caso, os Emirados Árabes Unidos.

 

Para Gerard Evenden, sócio do estúdio, o respeito ao meio ambiente também deve estar no coração do design, mostrando iniciativas sustentáveis pioneiras do país e como as suas edificações respondem ao clima local e evocam suas paisagens, cidades e cultura.

 

"Em segundo lugar, a arquitetura e a interatividade devem trabalhar juntas para trazer o tema da Expo à vida e inspirar o público. Sua experiência é parte do legado", ressalta. O pavilhão emiradense, por exemplo, é formado por paredes ondulantes de 12 metros de altura que remetem às cores e às dunas do deserto, panorama dominante na nação árabe.

 

Além disso, seus espaços internos naturalmente sombreados buscam evidenciar a eficiência energética obtida com as formas urbanas compactas das antigas comunidades dos EAU. "A Expo é uma grande oportunidade para empresas de arquitetura explorarem novas ideias e abordagens na construção, enquanto tratam dos temas globais que marcam o evento", acrescenta Evenden.

 

Já o pavilhão da Itália, além de ser o único definitivo da Exposição Universal, tem o peso de defender a história milenar do país na arquitetura. Para honrar as belezas criadas em sua terra natal ao longo dos séculos, o Studio Nemesi se apoiou em um dos elementos fundamentais da tradição italiana: a praça, espaço que é o coração urbano, social e político de muitas cidades da nação.

 

O "Palazzo Italia", nome oficial do projeto, é formado por quatro volumes colocados ao redor de uma praça interna, ponto de partida para o percurso expositivo e para os outros equipamentos da construção. Além das áreas de exposição (prédio oeste), os blocos contam com auditórios para eventos (sul), salas de conferência (leste) e escritórios (norte).

 

"A praça é um espaço onde os indivíduos se reconhecem. O centro dela é um grande vazio, e em volta os edifícios se multiplicam. Da praça, todos os caminhos partem e se encontram", explica Molè. Outra inspiração tirada da longa tradição italiana foram as superfícies côncavas e convexas. Segundo o projetista, um dos objetivos dessa obra é romper a rigidez da arquitetura com o uso de curvas.

 

Após a Expo, o pavilhão deve se tornar o coração de um grande parque científico que terá encubadoras, startups de tecnologia e talvez um campus da Universidade de Milão. "Nós queríamos que essa obra fosse capaz de honrar a grande tradição italiana, que construiu belezas por milhares de anos, mas que ao mesmo tempo tivesse uma linguagem contemporânea e inovadora, abrindo-se ao mundo", diz Molè.

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