
Uma missão integrada por autoridades italianas que viria a Santa Catarina para negociar a compra de carne suína e de novilhos vivos, foi cancelada. Para o governo do Estado, esta deve ser a primeira das consequências comerciais e diplomáticas entre Brasil e Itália, em razão do asilo concedido ao italiano Cesare Battisti, acusado de terrorismo e condenado à prisão perpétua em seu país de origem.
O prejuízo calculado para o setor é de pelo menos R$ 90 milhões. O cálculo é do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina, José Zeferino Pedrozo. A comitiva italiana era integrada pela vice-ministra da Saúde, Francesca Martini, e pelo chefe do Departamento de Saúde Pública, Romano Marabelli.
O secretário de Articulação Internacional de Santa Catarina, Vinícius Lummertz, afirma que a possível retaliação é preocupante, principalmente em tempos de crise econômica. "Foi algo silencioso. Buscamos as respostas e não houve retorno, deixaram em banho-maria", conta.
No Itamaraty, a visita da comitiva não havia chegado a ser confirmada oficialmente pelo governo italiano, o que levou os diplomatas a negar que tenha havido um cancelamento. Em caso de confirmação seria, na avaliação do ministério, um caso isolado, já que, em janeiro, foram mantidos regularmente os encontros programados.
Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária, a visita coroaria uma negociação de quatro anos, que culminava com a exportação inicial de 50 mil novilhos. Atualmente, o Brasil não exporta suínos nem bovinos vivos para a Europa. "Era o começo de um negócio que iria sacudir a pecuária. Seria algo pioneiro e só dependia de autorização da União Européia", lamenta.
Em um ano, a previsão era exportar 100 mil novilhos de 300 kg cada. No Brasil, o preço da cabeça varia entre R$ 800 e 900, mas, para a Europa, a idéia era valorizar mais o produto.
Além da agenda em Santa Catarina, foi cancelada também a reunião que a comitiva do governo de Silvio Berlusconi teria segunda-feira, em Brasília, com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.
Diante do cancelamento, o deputado federal Paulo Bornhausen (DEM-SC) sugeriu ao seu partido a aprovação de uma moção de protesto contra a concessão de refúgio político a Cesare Battisti pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. Ex-ativista de esquerda, Battisti foi condenado a prisão perpétua na Itália como terrorista pelo assassinato de quatro pessoas. Preso no Brasil, ele ganhou status de refugiado político.