
A bancada do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, apresentou uma moção de desconfiança contra o ministro do Interior e vice-premier da Itália, Matteo Salvini, em função das supostas conexões entre sua legenda, a Liga, e a Rússia.
A moção foi protocolada um dia depois do depoimento do primeiro-ministro Giuseppe Conte no Senado sobre o caso, que foi boicotado pelo outro partido da base aliada, o Movimento 5 Estrelas (M5S), que exigia a presença de Salvini no lugar do premier.
O texto é assinado pelos 52 senadores do PD, que governou a Itália entre 2013 e 2018, e pelos parlamentares Riccardo Nencini, do Partido Socialista Italiano (PSI), e Gregorio De Falco, expulso do M5S por votar contra as políticas migratórias de Salvini.
O “caso Rússia” estourou quando o site BuzzFeed revelou que Gianluca Savoini, ex-porta-voz de Salvini, negociou abertamente com dois cidadãos russos sobre um repasse milionário para a Liga.
A conversa ocorreu no Hotel Metropol, em Moscou, em outubro de 2018, durante uma visita oficial do ministro do Interior à cidade. No diálogo, Savoini e dois russos discutem a criação de um fundo de US$ 65 milhões a ser usado pela Liga nas eleições europeias de maio passado, com recursos obtidos da venda de petróleo.
Não se sabe, no entanto, se a negociação chegou a ser concluída.
Salvini diz que nunca recebeu dinheiro da Rússia e que não convidou Savoini para sua viagem a Moscou. “O ministro do Interior disse nos últimos dias que processará quem ousar relacionar fundos russos à Liga. Por que Salvini não processa Savoini? Talvez a resposta esteja na impossibilidade de processar um colaborador próximo que, aparentemente, falava em nome dele”, diz a moção.
A ação dos senadores do PD também é uma forma de fazer Salvini comparecer à Câmara Alta, onde o ministro ocupa uma cadeira, para se explicar. Até o momento, apenas Conte aceitou depor. “Há algo de inconfessável que ele tem medo de dizer. Já se passaram 10 dias”, afirmou o líder da oposição, Nicola Zingaretti.
Salvini, por sua vez, afirmou que a moção de desconfiança representaria uma “medalha” para ele. A tentativa de derrubar o ministro também será analisada pelo ramo do Parlamento onde a maioria do governo é mais estreita: apenas quatro ou cinco votos de margem.