A comissão do Vaticano de combate a abusos sexuais na Igreja Católica criada pelo papa Francisco em 2015 publicou seu primeiro relatório anual e recomendou a remoção de autoridades que não tomem medidas contra esse tipo de crime.
A Comissão Pontifícia para Tutela dos Menores é presidida pelo cardeal americano Seán Patrick O’Malley e tem entre seus membros o brasileiro Nelson Giovanelli Rosendo dos Santos, além de vítimas de pedofilia por parte do clero, como o chileno Juan Carlos Cruz.
“Em seus 10 anos de serviço, a comissão viu líderes da Igreja serem objetos de ações administrativas e/ou inações, as quais foram fontes de mal adicional para as vítimas e sobreviventes de abusos sexuais”, diz o documento.
“Tal realidade revela a necessidade de um procedimento disciplinar ou administrativo que forneça um percurso eficiente para a demissão ou remoção do cargo”, acrescenta o relatório, que ainda recomenda ao Papa a elaboração de uma encíclica “dedicada à proteção da criança e dos adultos vulneráveis na vida da Igreja”.
Além disso, a comissão aponta a “importância da indenização para as vítimas e sobreviventes como um compromisso concreto com seu percurso de cura”. “O ressarcimento na Igreja não se reduz a aspectos financeiros. De fato, como testemunhado pelo trabalho da comissão, diversos aspectos, como o reconhecimento dos erros, desculpas públicas e outras formas de verdadeira proximidade fraterna são frequentemente até mais importantes”, ressalta o texto.
Além disso, em tom mais crítico, o relatório diz que “grupos de vítimas” alegam que, em alguns países da Europa, “a reputação da Igreja parece ter prioridade em relação à proteção das vítimas e sobreviventes”.
Em coletiva de imprensa, Cruz, que se tornou ativista contra a pedofilia no clero, agradeceu a Francisco por ter criado o comitê e por “cuidar dos sobreviventes”. “Verdade, justiça e reparação eram tabus em muitos lugares. Falo como vítima, como sobrevivente, muito privilegiado por estar ao lado de pessoas que respeito enormemente”, salientou.
Nas últimas décadas, escândalos de abusos sexuais abalaram a imagem da Igreja Católica em países como Alemanha, Canadá, Chile, Estados Unidos e Irlanda e revelaram inúmeros casos de omissões de cardeais e bispos que não puniam padres pedófilos de forma adequada.