Os italianos que desembarcaram no Brasil há 150 anos impactaram diretamente na criação e evolução de alguns dos clubes mais tradicionais do país, como o Juventus (SP), que comemora seu centenário em 2024, enquanto luta para manter a “italianidade”.
Nascido no bairro paulistano da Mooca após a fusão de dois times de várzea formados por operários italianos, o “Moleque Travesso” não esconde suas origens: o nome é uma homenagem à Juventus de Turim, enquanto o grená de seu uniforme remete ao Torino, rival da Velha Senhora.
No entanto, apesar das raízes calcadas na Itália, a intensidade dessa relação vem diminuindo ao longo do tempo devido à miscigenação de povos na Mooca, antigo reduto italiano em São Paulo, mas que, ao longo do tempo, passou a abrigar também migrantes de outros locais.
“A população começou a ser agregada com muitas outras pessoas, migrantes e imigrantes, de origens diferentes, reduzindo sensivelmente a predominância italiana, a qual, embora muito menor que no passado, ainda predomina”, disse Ângelo Agarelli, historiador do Juventus, em entrevista à agência Ansa.
“Independentemente dessa miscigenação, como esses costumes eram tão marcantes, muitos desses novos moradores [da Mooca] foram e são por eles influenciados, mantendo-se até hoje, embora com menor intensidade”, acrescentou. Uma das formas encontradas por parte da torcida para preservar as raízes é desafiar o conceito de “futebol moderno” para valorizar tradições que persistem até hoje, como a venda de cannoli no estádio Conde Rodolfo Crespi, empresário italiano que foi um dos principais apoiadores do clube em seus primeiros anos. No Brasil, o campo é mais conhecido pelo seu endereço, a Rua Javari.
Segundo Agarelli, a preservação das origens italianas atrai simpatia de outras torcidas para o Juventus e também ajuda na “obtenção dos patrocínios necessários à manutenção e ao crescimento do seu departamento de futebol”.
No entanto, a jornalista Beatriz Lia, autora do livro “Mooca: Só quem tem história pode contar” e torcedora juventina, destacou a necessidade de o clube não ficar estagnado no passado e buscar apoio de um grande patrocinador, como o Bragantino, que chegou à elite do futebol brasileiro após a chegada da Red Bull – o Juventus disputa atualmente a série A2 do Campeonato Paulista, torneio no qual já foi presença frequente na primeira divisão.
“Talvez as coisas estejam assim agora justamente para manter a tradição italiana, mas talvez sejam ideias e conceitos que não funcionam mais para o clube. O principal desafio é como equilibrar a manutenção das tradições italianas sem ficar ultrapassado”, disse ela à agência Ansa.
Por outro lado, a jornalista elogiou as “tentativas de diversificação” do Juventus, como a abertura da sede do clube para receber shows, implementar outros esportes e atrair novos associados.