O presidente do Governo italiano Silvio Berlusconi disse que no país há cerca de "7,5 milhões de pessoas sob escuta" enquanto falam ao telefone, mas foi desmentido logo em seguida pelo presidente da Associação Nacional de Magistrados (ANM), Luca Palamara.
Ao discursar na assembleia dos comerciantes (Confcommercio), Berlusconi disse que na Itália "a liberdade de expressão não está protegida" e que "todos somos vigiados", o que "já não se pode tolerar".
Palamara respondeu que os "dados sobre as escutas contradizem as afirmações de Berlusconi", pois "o número de pessoas interceptadas é sensivelmente inferior" ao indicado pelo premier.
Na prática, pontualizou Palamara, em 2009 a Justiça interceptou 119.553 telefones, o que atingiu 132.384 pessoas, a um custo de € 272.665,168 que o Estado recuperará dos interceptados condenados em juízo.
Na semana passada o Senado aprovou um projeto de lei do governo sobre as escutas que reduz consideravelmente a capacidade investigativa da Justiça contra o crime e a possibilidade informativa da imprensa, o que gerou protestos tanto dos juízes como da imprensa.
Na ocasião, o sindicato único dos jornalistas italianos (FNSI) convocou uma greve geral para o dia 9 de julho, data em que está prevista a votação definitiva do projeto de lei na Câmara dos Deputados. Se aprovado, caberá ao presidente da República, Giorgio Napolitano, assiná-lo ou devolve-lo às duas Câmaras para nova análise.
Cresce polêmica por lei italiana –
A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para a liberdade de imprensa, voltou a se referir à diretriz das escutas telefônicas e disse que é "normal e rotineiro" que essa organização europeia expresse seu parecer sobre projetos legislativos dos países-membros.
Ronald Bless, vice-chefe da OSCE, disse que é "normal e rotineiro" que o organismo manifeste sua opinião sobre os projetos de lei dos países-membros, após a avaliação negativa à norma sobre as escutas telefônicas judiciais, cuja discussão está em curso no Parlamento italiano.
"Naturalmente, o Parlamento italiano é soberano e independente", acrescentou Bless, em resposta à reação enérgica da chancelaria italiana às colocações da OSCE sobre o assunto polêmico.
O porta-voz da chancelaria, Maurizio Massari, disse que Roma comentou "com firmeza" que a apreciação da OSCE foi "inoportuna". (ANSA)