Notícias

ESPECIAL: Imigrantes refugiados na ilha italiana de Lampedusa sofriam abuso sexual

Imigrantes refugiados na ilha italiana de Lampedusa sofriam abuso sexual"Eu também fui objeto de violência sexual. Uma noite, depois de ser afastada do meu grupo, fui forçada a ir para o lado de fora, onde eles me jogaram no chão, amarraram meus braços, tamparam minha boca e enfiaram minha cabeça na gasolina, causando fortes queimaduras no couro cabeludo, no rosto e nos olhos. Depois, não contentes, os três abusaram de mim."

Esse é o trágico testemunho de uma garota de 18 anos da Eritreia, uma das sobreviventes do naufrágio de um barco de imigrantes no último dia 3 de outubro no mar Mediterrâneo, que deixou 366 mortos. E seu caso não é o único. Segundo Corrado Empoli, chefe da polícia de Agrigento, na Sicília, a partir dos depoimentos das pessoas que escaparam da tragédia, ficou claro que mulheres eram violentadas pelos membros da organização criminosa responsável pelo transporte dos clandestinos até a Europa.

Uma investigação promovida pela Justiça italiana levou à prisão de um somali e um palestino, ambos acusados de fazer parte do grupo responsável pelo tráfico de humanos no país. De acordo com o inquérito, pelo menos 20 moças teriam sido estupradas pelo cidadão da Somália e por alguns milicianos da Líbia no período em que os imigrantes eram mantidos como prisioneiros em um "centro de recolhimento" na cidade de Sheba (Líbia).

Uma delas é a jovem eritreia de 18 anos. "Depois me levaram de volta para o quarto e eu contei tudo aos meus companheiros de viagem. Todas as 20 garotas que foram sequestradas sofreram violência sexual. E durante o ato, meus estupradores não usaram proteção e nem se importaram com a minha virgindade", contou. Outras pessoas ainda relataram torturas com choques elétricos e espancamentos.

As investigações mostraram que caravanas de imigrantes eram interceptadas por grupos paramilitares no deserto entre o Sudão e a Líbia. Os viajantes eram sequestrados e levados para verdadeiros centros de tortura, como o de Sheba, onde eram mantidos como prisioneiros até as suas famílias pagarem um resgate. Depois, eles eram transportados até a costa para continuar o percurso até a Itália.

O somali e o palestino detidos foram reconhecidos pelos sobreviventes do naufrágio – inclusive, eles tentaram linchá-los. O primeiro deles é um dos líderes da rede criminosa. "É uma das raras vezes em que se prende um chefe dessa estrutura", afirmou Enzo Nicolì, dirigente do Serviço Central de Operação (SCO) da polícia. O outro seria um dos comandantes dos "barcos da esperança". Ambos estão agora em uma cadeia em Palermo. Os investigadores avaliam que cada clandestino rendia US$ 5 mil (R$ 11,6 mil) à organização.

Mostrar mais

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Por favor, considere apoiar-nos, desativando o seu bloqueador de anúncios